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Strategos


2016-05-03 estratégia família
As linhas base que têm que estar na mente de todos a todo o tempo para que se atinjam os objetivos definidos.

Este é o último artigo que escrevo (ainda por cima numa lógica “toca-e-foge”…) antes daquele que é provavelmente o momento mais importante da minha vida até agora – o nascimento das minhas filhas. Muitos de vós passaram já por isto e sabem que é daqueles “game-changing-moments”. Por princípio e educação, nunca me considerei mais do que os outros. Mas, a verdade é que também nunca tinha sentido que havia alguém que fosse mais importante que eu próprio. Até agora. E logo em dose dupla. Dei por mim a pensar que este tipo de eventos é o que faz alguém mudar a estratégia. E estão partilho os meus pensamentos. Espero que seja para vós um pouco melhor que para os cadetes no filme “Tropa de Elite” quando o Capitão Nascimento falava de estratégia.

Dentro de algumas horas, vou passar a comer, respirar, meditar, trabalhar, correr por elas e só depois para mim. Toda a minha existência será em função delas e em prepará-las o melhor que sei e posso para serem pessoas felizes e com princípios correctos que os possam aplicar e passar aos seguintes. “The Circle of Life”, cantaria Elton John ao piano, se bem que para mim era mais “Rocket Man”. Mas eu já não (me) importo.

É a isto que se refere a Estratégia. São as linhas base que têm que estar na mente de todos a todo o tempo numa organização / departamento / equipa / família / pessoa para que se atinjam os objetivos definidos. É o que faz justificar a nossa vivência e decisões, a inspiração e a transpiração. Não podemos em qualquer circunstância contrariar a estratégia? Claro que podemos. Até José Mourinho, em momentos muito pontuais de jogos muito específicos, coloca as equipas a atacar e a jogar futebol atractivo. Mas apenas como um mecanismo para poder voltar rapidamente ao estilo de jogo cínico e musculado habitual. É aqui que entra a táctica. Todas as movimentações do dia-a-dia, respostas aos desafios concretos, a agilidade mental de tomar decisões, sabendo que, mesmo que não pareça, é a forma de logo que possamos regressar à estratégia definida.

É aceitável mudar conscientemente a estratégia, os tais “game-changing-moments” que às vezes nos acontecem. É aceitável (desejável, até) que a estratégia seja ajustada, porque descobrimos, até num princípio de agilidade, que não sabíamos tudo para a definir totalmente à partida. É aceitável que uma decisão tática nos faça temporariamente tomar um caminho mais comprido para a nossa estratégia (como quando eu tiver que castigar as meninas depois de elas usarem as paredes como folha de projecto, o que as tornará temporariamente infelizes e com vontade de me insultar, no caminho para a sua felicidade e bons princípios). Mas não é aceitável tomarmos decisões supostamente “táticas” contra o que foi definido estrategicamente com o propósito de as perpetuar ou de abrirmos buracos que nunca iremos conseguir fechar. Isso não é tática. É falta de coragem. Falta de coragem para redefinir a estratégia, falta de coragem para confrontar quem definiu a estratégia, falta de coragem para assumir que estamos a mais na estratégia. Um exemplo: imaginem uma empresa que quer ter “Agilidade” no seu ADN e depois tem empecilhos em todo o lado que querem filtrar toda a informação para não chegar a quem realmente deve e aumentarem a sua importância, em clara contradição com os princípios da Agilidade. Não faz muito sentido, pois não?

Espero ter esta clarividência quando elas me disserem que já não gostam do repertório de canções de embalar que estou a preparar – “Cats in the Cradle”, “Father and Son”, “A Gente vai Continuar”, “Life on Mars?”, que não envergonha um RocknRolla (sim, já sei, faltam-me uns quantos pedaços para Gerard Butler) – e me disserem que preferem umas coisas mais RnB. E lá terei que aprender um pouquinho de Beyoncé ou Rihanna. Mas pelo menos posso de vez em quando incluir aquela com o Paul McCartney.

Dizem que os primeiros filhos têm mais propensão a ser líderes porque se habituam desde cedo a influenciar pais inexperientes. E também há quem diga que as mulheres são naturalmente mais eficientes em tarefas de liderança (e este tipo de informações é sempre de uma origem tão difusa e quase mítica que pode ser usada em qualquer argumento, e agora dá-me mesmo jeito). Talvez tenha descoberto a minha missão (ainda que involuntária): criar não uma, mas duas super-líderes que vão ajudar a mudar para melhor a vida aqui no rectângulo do “wild-west” europeu. Desde que sejam felizes e não se esqueçam dos valores que viverei para lhes ensinar. Quanta pressão para a minha estratégia.

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