Uma aventura na velha Europa
2021-03-07 política
A velha Europa é pródiga em racionalizações da sua história. Eu próprio, confesso-me tão adepto como qualquer outro de uma boa justificação lógica e simples para um problema complexo. Aquelas do género “claro, ele ficou assim porque foi rejeitado na Academia de Artes de Viena” ou “a família também já tinha sofrido a trabalhar para judeus” ou também “ficou sem-abrigo e teve que dormir em albergues, o que causou uma revolta crescente ao verificar que os ricos judeus conseguiam ir assistir a óperas e ele não”. Que “A culpa era daquele bigodinho ridículo”, “a pilinha era proporcional ao bigode e isso trouxe-lhe vários traumas”. Para além, claro, do “nunca tinha havido tanta prosperidade económica como com ele no comando”, “gostava muito das artes e de animais” ou “era muito bom orador e as pessoas estavam do lado dele” e outras tantas mais, que a distancia do tempo nos faz romantizar.
Pois bem, que fique claro para o futuro, caso aqui o retângulo ao canto da velha Europa se meta em aventuras: não há lugar a racionalizações no futuro. Pelo menos agora, todos sabemos ao que esses tipos vêm. Que ninguém possa vir a ter a indecência de alegar que o que quer que possa acontecer foi porque “coitado, até usava o cilício em jovem”, “gostava tanto da coelha” (com ou sem sodomia associada), “foi tão reprimido” ou “punham-no sempre à baliza”, “aquele cabelo ridículo foi sempre um problema nos amores”, “aquele amigo negro que partilhava cigarros com ele partiu-lhe o coração para sempre”. Nada disso. Todos sabemos ao que vem. Não temos desculpas.