O Santo
2021-04-14 política
Fazei soar as trombetas e celebrai em júbilo, comuns mortais, pois o Santo é inocente. Tudo não passou de uma vil cabala orquestrada por eles que vivem do torpe, do vil e da desgraça. Sabeis, pois, que o Santo tem amigos. Queríeis que os não tivesse? E de posses falais? Tostões amealhados a custo pela pobre mãe. Claro está, os santos têm mãe, e a mãe do Santo é tão pura como a mãe do Senhor. Tudo mentiras o que por aí se diz. Totalmente inocentado, sem qualquer margem para dúvidas. Até a terrena justiça, justiça é. E se provas usais que estão prescritas, pois que sejam impedidas essas provas. E se no juízo dizeis que corrompido foi, então inocente é. E se no juízo dizeis que abusou de seu poder, então inocente é. Se no juízo dizeis que seu país vendeu, então inocente é. E se dizeis que adquiriu dinheiro ilícito, claro, sabei desde já, inocente é e será.
E a nós miseráveis mortais, que nos resta? Além de celebrar esta absolvição que o Santo tão bem apregoa? Resta-nos esperar. Esperar que a justiça continue o seu trabalho. Esperar que o Santo não consiga usar um cêntimo do dinheiro iícito que adquiriu. Esperar que o Santo nunca mais peça uma café pingado sem ficar na dúvida se o leite não será de origem humana.
Foto: A Morte de Sócrates, Jacques-Louis David (1787)